Negros brasileiro e o casamento inter-racial
Essa semana foi longa para o irmão e militante Jairo Pereira do Diário
Preto. Não posso afirmar que o irmão esteja mal intencionado, mas admito
que o rapaz escorregou feio ao tentar dissertar sobre um assunto que
tem sido muito caro para nós negros do Brasil.
É um tema difícil e o longo debate que se estendeu ao longo da semana
deixou claro que não há consenso e isso é muito bom afinal, o consenso
na maioria das vezes é apenas uma construção política, raramente é algo
que nasce do desejo da coletividade. Falar de amores e sentimento é
sempre uma aposta, pois há tantas variáveis, tantas possibilidades que
podemos incutir no erro de sermos superficiais. O primeiro ponto que
quero deixar claro que não acredito que duas pessoas de grupos raciais
diferentes não possam se apaixonarem e serem felizes juntos. Acredito
ainda que em países onde não exista esse desejo de
extermínio étnico essa possibilidade deve ser bem maior. Agora o Brasil
é um caso a parte, primeiro por ser uma nação que é fundada sob a égide
da intolerância, ignorância e racismo e o que é pior temos uma elite
extremamente inculta, violenta e superficial. Elite essa que ainda hoje
nos idos do século XXI quando o avanço tecnológico e científico nos dá
novos horizontes, apontando inclusive para o fato de que a raça humana
tal qual a conhecemos hoje, nasceu na África e de lá saiu para povoar o
resto do mundo, continua buscando um ideal de nação branco escandinavo
baseando-se numa teoria de superioridade racial já desacredita no resto
do mundo. Tal fato nem chega ser surpreendente afinal de contas somos a
ultima nação do mundo a abolir a escravidão, por isso sendo também a
ultima a sair do século XIX, para o século XX. Ainda nessa linha de
raciocínio podemos dizer que seremos a ultima nação do mundo a chegar
ao século XXI. Muito se tem falado em racismo negro o que também acaba
sendo natural se analisarmos o caráter superficial e cientificamente
achista com que se tem debatido temas que deveriam ser sérios, mas que
acabam sendo diluidos num mar de achismos e sofismos de toda ordem,
talvez por nossa debilidade educacional, talvez pelo caráter pouco ético
que historicamente as relações raciais brasileiras tem demonstrado. E,
é nesse panorama que devemos discutir o movimento negro e suas
lideranças majoritariamente casados com pessoas brancas. Para tanto
acredito que devemos primeiro entender que ser uma liderança dentro de
um movimento é uma escolha pessoal e que ninguém é forçado a ser líder.
Pensado assim, podemos fazer uma comparação com outros movimentos, o MST
por exemplo. Imaginem um líder dos Sem Terras sendo um fazendeiro
riquíssimo. É extremamente contraditório se pensarmos em termos de ética
e bom senso. É uma comparação grosseira, mas faz sentido se
entendermos que a maior liderança negra que se construiu no Brasil não
escolheu uma mulher negra para partilhar sua vida. A mensagem que
qualquer estrangeiro desavisado pode ter é a seguinte: Não há mulheres
negras dignas de tal figura histórica no Brasil. O ponto importante é
que a mensagem deixada a juventude é a de que ao ascender socialmente
tanto o homem negro culto, quanto o inculto deve procurar casar-se com
mulheres brancas para melhor ser aceito na sociedade. O mesmo serve para
as mulheres negras de corpos esculturais e acadêmicas. Oras se existe
uma intenção deliberada por parte das elites de eliminar a pele
negra através de sucessivos cruzamentos programados , como ignorar tal
fato e se entregar aos nossos instintos mais íntimos, se de fato é como
nos sugere o livro Alma no exílio, sem pelo menos fazer uma apurada
reflexão a respeito das nossas motivações?
LINK:
A pergunta que não quer calar é a seguinte: Até onde essas posturas são
voluntárias e involuntárias? Para simplificar podemos formular assim,
até que ponto somos plenamente livres em nossas escolhas?
Carta de William Lynch
“Não se esqueçam q vcs devem colocar o velho negro contra o jovem negro.
E o jovem negro contra o velho negro. Vcs devem jogar o negro de pele
escura contra o de pele clara. E o de pele clara contra o de pele
escura. O homem negro contra a mulher negra.”
LEIA MAIS NESSE LINK:
A verdade é que urge a necessidade de novas referências que tenham em
mente que o exemplo é mais forte do que qualquer palavra bonita ou
conceito bem embasado. Não quero dizer com isso que toda luta que foi
lutada até agora perdeu o seu valor por que as lideranças negras não se
deram o trabalho de serem coerentes com os seus discursos. Todavia
sabemos o preço que a juventude negra vem pagando por toda essa
incoerência.
Por:
Prettu Junior
Autor do livro u
Um pouco além das rimas: o preto e a cidade